sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Trabalho - Lapa no centro da greve geral de 1917

 
“Pela primeira vez em sua história, o país enfrentou uma greve geral do operariado, em 1917, contra as condições de trabalho, a carestia e o desemprego. A primeira greve operária de que se tem notícia no Brasil foi realizada pelos gráficos dos três jornais do Rio, em 1858. Na época, trabalhava-se 15 horas nas oficinas desses periódicos.

As cidades do período já possuíam bairros operários consolidados, formados ao redor das fábricas, que seguiam geralmente o traçado das ferrovias, como em São Paulo - na Lapa e Água Branca (zona oeste), no Bom Retiro, Bexiga e Barra Funda (centro), no Cambuci, Ipiranga e Vila Prudente (zona sudeste) e no Brás, Mooca, Belenzinho e Pari (zona leste)-, no Rio de Janeiro _certos subúrbios, como Bangu, além de Gamboa, São Cristovão, Gávea, Tijuca e Laranjeiras - e em Recife, em São José e Afogados.

Uma grave crise econômica atingiu o Brasil em consequência da Primeira Guerra Mundial, entre 1914 a 1917. Os salários dos trabalhadores não acompanhavam o aumento do custo de vida. Entre 1914 e 1923, o salário médio havia subido 71%. O custo de vida, considerando-se apenas itens básicos, havia aumentado 189%, o que significava uma queda de quase dois terços no valor real dos salários.

O encarecimento dos produtos de primeira necessidade, em especial dos alimentos, era atribuído à ação dos açambarcadores, cujos agentes percorriam o interior do estado comprando toda a produção e armazenando-a para a exportação. Os gastos com a alimentação consumiam cerca de dois terços dos gastos domésticos. O salário médio de um operário em era em torno de 100 mil réis. O consumo básico de uma família (homem, mulher e dois filhos) chegava a 207 mil réis.
 
O combate ao trabalho infantil foi eleito uma das principais bandeiras de luta do Centro Libertário de São Paulo, em março de 1917. Em março e abril se realizariam vários comícios do Comitê Popular de Agitação contra a Exploração de Menores nos bairros operários.
A participação operária era expressiva nos comícios e no 1º de Maio. O passo seguinte era organizar ligas de resistência nos bairros onde residiam os trabalhadores. A primeira é criada em maio na Mooca. Iniciam movimentos por aumento salarial e melhorias nas condições de trabalho. 

Pelos meses de maio e junho várias fábricas de tecidos entram em greve. Os anarquistas deflagram um campanha com o lema ?Toda Em Julho, São Paulo parou. Sindicatos anarquistas lideraram uma paralisação contra os baixos salários e por melhores condições de trabalho. 

 O governo deu ordem de abrir fogo em quem ficasse parado na rua. Operários e polícia entraram em conflitos violentos. Em 11 de julho, morreu o sapateiro Antônio Martinez. 



O movimento grevista se radicalizou e atingiu toda a cidade. Bairros operários tornaram-se fortalezas de resistência, e barricadas se espalharam pelos bairros Lapa, Brás, Mooca, Barra Funda e outros. A partir daí a greve vai se alastrar rapidamente pela cidade, tomando o operariado de uma forte comoção e disposição para a luta.
 
No mesmo dia da tragédia, à noite, o grupo de editores dos jornais anarquistas Guerra Sociale e A Plebe, os militantes do Centro Libertário de São Paulo, os socialistas do jornal Avanti e do Centro Socialista de São Paulo e os representantes das ligas operárias, das corporações em greve e de associações político-sociais se reúnem no Centro Libertário para discutir os rumos da greve. Então se decide constituir o Comitê de Defesa Proletária (CDP). Edgar Leuenroth assume o papel de secretário do CDP com o pseudônimo Frederico Brito.

O CDP decide transformar o enterro numa grande manifestação popular. Este ocorre no dia 11 de julho, sob intenso frio e chuva. Na cerimônia fúnebre vários oradores falaram, protestando contra a violência policial, pedindo a soltura dos grevistas presos, clamando pela liberdade de organização e exigindo a reabertura de duas entidades de orientação anarquista fechadas pela polícia, a Liga Operária da Mooca e a Escola Nova.

O CDP desde aí manteve-se permanentemente reunido de forma clandestina para evitar represálias da polícia, coordenando os rumos da greve e divulgando os acontecimentos ocorridos em São Paulo através de circulares enviadas ao interior do estado à COB. Solidariedade seria a sua palavra de ordem e a greve geral sua bandeira de luta.

Diversas categorias responderam ao apelo da CDP e em 11 de julho o nº de grevistas chega a vinte mil. Neste dia se realiza um comício com cerca de 3 mil pessoas na Praça da Sé, pedindo o direito de associação e liberdade para os presos. À noite, em reunião clandestina do CDP com representantes de 36 associações operárias e de várias comissões de greve, se decide agrupar em um único memorial as reivindicações comuns a todas as categorias, como também da população em geral.

Quando a pauta de reivindicações se tornou pública em 12 de julho, São Paulo parou. Por três dias as atividades industriais, comerciais, serviços e transporte ficaram paralisados. Cerca de 100 mil trabalhadores estavam em greve. A greve repercute no interior do estado e nas principais cidades brasileiras, de onde as agremiações brindam seu apoio moral e financeiro. Em Santos a UGT decreta greve geral em solidariedade à greve de São Paulo.

O governo suspendeu a repressão, e iniciaram-se as negociações. No dia 15 os representantes do poder público e alguns industriais cedem às reivindicações. No dia 16 a CDP convoca 3 comícios em locais diferentes da cidade para deliberar sobre sua proposta de aceitar o acordo. Num deles compareceram mais de 10 mil pessoas. Nos três comícios os trabalhadores votaram e aprovaram a ?Ordem do Dia do CDP? de retomada ao trabalho nos estabelecimentos onde os patrões aceitaram as bases do acordo e a manutenção nos demais lugares. A greve foi suspensa após empresários aceitarem 20% de aumento salarial, a liberação de grevistas presos e a suspensão de demissões por solidariedade aos grevistas?. Comemorada as vitórias obtidas ao som da 'Internacional', a greve obteve antes de tudo a conquista da confiança dos operários em suas próprias forças.

Logo as greves se estenderiam também pelo Rio de Janeiro, Curitiba e cidades do sul do Paraná, com ocorrência de violentos choques com a repressão”. (Fonte:Midia Independente)

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