"A urbanização do bairro da Lapa, e mesmo da zona oeste da cidade de São Paulo
tem início a partir do momento em que a região é cortada pelos trilhos da SPR. As pequenas propriedades rurais começam a ser loteadas, atraindo a crescente massa de trabalhadores emigrantes. Na década de 1880, teve início a abertura do loteamento da Vila Romana composto, no início, de chácaras.
No mesmo período foi lançado o loteamento do Grão Burgo da Lapa, compreendendo o já existente núcleo da Lapa de Baixo e toda a atual região central do bairro. Data dessa época também o loteamento de Vila Sofia, hoje confundida com a Vila Romana, composto por 808 lotes de características urbanas.
A própria SPR – seja a empresa ou seus funcionários britânicos – participou do desenvolvimento do bairro da Lapa e dos arredores das oficinas.
Faz parte da história da constituição do bairro de Pirituba, a compra de parte da fazenda do Brigadeiro Tobias pelo Frigorífico Armour do Brasil e de outra parte pela SPR que, em 1935, loteou um trecho de sua propriedade – a Vila Comercial – sendo o restante loteado já na década de 1950, recebendo a denominação de Chácara Inglesa. Está ainda para ser aprofundada a relação entre os ingleses da SPR e a Companhia City, que lançou o empreendimento bairro Alto da Lapa em 1921, com desenho do urbanista inglês Barry Parker, local escolhido para construir suas moradias por inúmeros funcionários da empresa ferroviária. As vantagens da proximidade da ferrovia e do rio Tietê levou ainda várias indústrias para a região, como a Vidraria Santa Marina e o Frigorífico Armour; a partir da década de 1930 as indústrias começaram a se expandir na direção da Vila Leopoldina, Vila Hamburguesa e Anastácio.
Pode-se dizer também que as oficinas da Lapa da São Paulo Railway desempenharam importante papel na organização e implementação do ensino profissionalizante no Brasil, oficializado em 1942 com a criação do Serviço Nacional de Aprendizado Industrial – Senai.
No ano de 1924 o engenheiro Roberto Mange, professor de desenho de máquinas na Escola Politécnica de São Paulo (um dos fundadores do Instituto de Organização Racional do Trabalho – Idort e do Senai) transformou o Curso de Mecânica Prática do Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo em Escola Profissional de Mecânica. Trata-se da primeira tentativa de unificação dos métodos do ensino para ferroviários no Brasil, berço dos Centros Ferroviários de Ensino e Seleção Profissional. A nova escola passou a receber os melhores alunos das quatro grandes ferrovias paulistas de então (São Paulo Railway, Sorocabana, Paulista e Mogiana) para um curso de quatro anos com estágio paralelo obrigatório nas Oficinas da SPR na Lapa.
Assim, mesmo que não tenha havido um envolvimento direto da SPR na organização desses cursos de formação de mão de obra – a maior parte dos seus funcionários especializados, desde a fundação, vinham da Grã Bretanha – as Oficinas da Lapa, com suas modernas instalações e atividade intensa e diversificada, tornaram possível a implementação de um curso que tinha como um dos seus pressupostos nunca perder de vista a relação entre as aulas teóricas e a prática nas oficinas. (Fonte: Cecilia Rodrigues dos Santos professora adjunta e pesquisadora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie - in Vitruvius)
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