domingo, 20 de março de 2011

Memória: Lembranças da Leopoldina

"As pessoas se preparam para mais um dia de trabalho. Existiam nas redondezas várias empresas para onde elas se dirigiam: O Frigorífico Armour; A Manufatura de Artigos de Borracha e Plásticos Pager, na "borracha" como era chamada; na "maizena" Refinações de Milho Brasil; Sabonete Lever; Laboratório Farmacêutico Lorenzini, entre muitas outras.

Na descida do abacateiro, início da Rua Aliança Liberal, já se escutava o sino do carroção de leite (Vigor) entregando o leite de porta em porta. A carroça do padeiro entregava os pães, logo pela manhã, e marcava a conta em caderneta, para receber no final do mês. E o freguês ainda ganhava um pão doce como brinde. As cadernetas também eram utilizadas nas compras nos armazéns de "secos e molhados", e ao pagar ganhava uma lata de marmelada da marca Peixe como brinde.

Em cada esquina da Rua do Corredor, atual Rua Guaipá, tinha uma dessas “Vendas”, onde se vendiam arroz e feijão a granel. Como a venda do Totó, do Roque, do Cardoso, do Camilo, do Martinho e a do Porfírio, que em frente tinha uma bomba de gasolina do Sr. Nicola, que abastecia os poucos carros daquela época.

Desde aquela época já existe a loja Armarinhos do Sr. Anelo que permanece lá até hoje. Tinha o Sr. Natalino barbeiro de grande clientela. Os primeiros médicos da Vila Leopoldina foram: o Dr. João Neder, na Rua Corredor e o Doutor Lafayete na Rua Curupaiti. Havia a Sociedade Beneficente Bandeirante, onde os sócios pagavam uma mensalidade e tinham direito a assistência médica e odontológica. Hoje o seu salão é alugado para eventos, casamentos, aniversários, etc.

Na esquina das Ruas Aliança Liberal e Cel. Botelho, havia o bar do Sr. Tinho, onde as pessoas se reuniam para jogar Bilhar. Havia também várias escolas particulares, uma delas a do Sr. José Joaquim (Zé Careca) com bons trabalhos prestados aos moradores. Ensinando os primeiros passos para a alfabetização. No início da Rua Aliança Liberal tinha uma sala de aula, onde lecionava a Dna. Maria, que ensinava as crianças a ler e a escrever.

Tinham vários vendedores de porta em porta. Como um casal que vendia batatinhas em uma carroça, um senhor com uma sacola nas costas vendia sementes, uma mulher vendia fígado, outros vendiam alho, o Sr. Pascoal era o peixeiro. O Zé das Cabras ia pelas ruas com várias cabras, uma amarrada às outras, passando pelas casas vendendo o leite tirado na hora. Um turco vendia roupas com uma charrete. Tudo marcado em caderneta e pago no fim do mês.

Os garotos se preparam para ir à escola, Grupo Escolar de Vila Leopoldina que ficava entre a venda do Sr. Martinho e o açougue do Sr. Gino, a diretora era a Dna. Nina. Dna. Ana, Rafaela, Bruna, Celina e Sara, eram algumas das professoras daquela época. As classes eram divididas em três horários: das 8h00 às 11h00, das 11h00 às 14h00 e das 14h00 às 17h00. Com o fechamento desta escola os alunos foram transferidos para a Escola Professor José Monteiro Boanova, no Alto da Lapa.

Os garotos que não iam à escola naquele período jogavam futebol no Campo do A.P. Vasco da Gama, o Vasquinho, na Rua Montevidéu com a Rua Aliança Liberal, ali eram realizados torneios da turma de cima, Açougue do Rivetti, contra a turma do meio, Padaria Sr. Genaro, e contra a turma de baixo, da Fábrica de Borracha Pager.

Alguns garotos que jogavam futebol: Salim, Dorobel, Tuto, Henrique, Irineu, Luis (Zupa), Fausto, Adilson, Zéca, Adelino, Haroldo, Rodolfo e Abel (triste lembrança, o Abel espetou um prego enferrujado no pé e acabou morrendo de tétano). Outros garotos pescavam e nadavam nas lagoas Tanque Azul e Prainha, onde é hoje o Ceasa. Outros iam pegar passarinhos e jabuticabas na chácara Aliança. Outros empurravam pneus usados pelas ruas.

Várias brincadeiras eram praticadas por estes garotos naquela época. Farão tudo que o mestre mandar, faremos com muito gosto, quem não cumpria a tarefa ficava de castigo. Uma na mula, onde uma pessoa ficava agachada, as outras vinham e pulavam em cima. Carrinho de carretel, pois naquele tempo não existia carrinho de plástico, somente de Baquelite. Brincavam também de boca de forno.

Havia vários álbuns de figurinhas, de futebol vinha enrolada em uma bala, e tinha também as carimbadas que eram mais difíceis de sair. Os álbuns "Balas seleções" tinham vários assuntos de conhecimentos gerais. Havia muitos temas para os álbuns de figurinhas, "Ídolos da tela", "Gata borralheira", "Marcelino pão e vinho", "Branca de neve e os sete anões", essas já começaram a ser vendidas em envelopes. Havia também figurinhas que vinham dentro do pacote de café Jardim. Quem conseguia preencher o álbum ganhava prêmios.

Antes as bolas tinham uma câmara de ar com um “bigolim” que era colocado para dentro. Havia uma brincadeira com bolinhas de vidro (de Gude) que se chamava "Bolinha a Box". Alguns garotos empinavam quadrado o mesmo que Pipa, outros jogavam pião. Outros faziam Balões, pião, caixa, almofada, barrica, careca de padre, charuto, bola, etc. Alguns garotos gostavam de ler Gibis, histórias em quadrinhos, entre eles o do Mandrak, o Fantasma, Capitão América, Capitão Marvel e muitos outros.

Outro jogo que os garotos gostavam era a Caixeta, colocava-se uma moeda em cima de uma caixa de fósforos em pé, uma outra moeda de 400 Reis era jogada contra a caixa, a certa distância. Quando derrubada, a moeda que ficasse mais perto da caixa ia ganhando as mesmas.

As meninas pulavam amarelinhas, ciranda de roda, pula-corda, esconde-esconde. Na Rua do Corredor eram montados vários Circos que aos domingos de matinê passava o seriado o Homem-aranha e o Escorpião. Também se apresentavam os artistas Alvarenga e Ranchinho, Arminda Falcão, os palhaços Fuzarca e Torresmo, etc.

Também eram montados vários parques de diversão. No mês de Junho começavam as festas Juninas, com quermesse em várias Igrejas da região, entre elas a da Igreja N.S. Fátima, na Rua Barão da Passagem, Alto da Lapa. Depois chegou a era do Cinema, onde vários foram construídos na região. O Cine Bagdá na Rua do Corredor passava dois filmes à noite, e aos domingos matinê com dois filmes e um seriado. Flash-Gordon, Perigos de Nyoka, os Tambores de Fumanchú, Jim das Selvas, com Jonny-Weismuller.
Outro era o Cine Brasília, na Rua Brigadeiro Gavião Peixoto, onde até pouco tempo era o Supermercado Pão de Açúcar, e o Cine Santo Estevão, na Vila Anastácio, do lado da Igreja. Naquela época, com o surgimento da televisão, onde poucas pessoas tinham condições de comprar uma, a saída era ir aos bares da redondeza onde tinha o aparelho.

No fim da Rua do Corredor, lado esquerdo, onde é hoje um posto de gasolina era o bar do Gama. Antes de ir para a escola, íamos assistir o desenho do Pica-pau. Tinha outra em um bar na Rua Aliança Liberal, esquina com a Rua Cel. Botelho, bar do Português, que aos domingos, lotava quando passava o jogo de futebol entre o Palmeiras e o Corinthians. Bar de triste recordação, pois ali foi assassinado o soldado do exército Geraldo, filho do Delegado, Sr. Garcia.

Aos domingos tínhamos poucas opções de lazer, uma delas era assistir aos jogos de futebol no campo do A.P. Vasco da Gama (Vasquinho). Vários jogos aconteciam ali: Vasco x Bela Aliança; Vasco x Serrote; Vasco x Continental; Vasco x 11 Irmãos Patriotas. Alguns jogadores do Vasquinho; Batatais, Coque, Miolo, Paco, Fausto, Jaguaré. O Sr. Martinho (Alfaiate) morava na sede do Vasco, na esquina da Rua Aliança Liberal com a Caromandel. Ali eram guardadas as taças, troféus, bolas e camisas do clube.

Quem não se lembra da Farmácia do Sr. Domingos, também na Rua do Corredor, que era o pavor da garotada, pois quem ali entrava na certa tomava uma injeção. Outra pessoa muito conhecida era Dna. Maria Mineira, benzedeira, que dizia ter sido escrava. Em sua casa, benzia contra várias doenças. Dna. Arminda aplicava injeção à Domicílio.

Mais um conhecido, Sr. Joaquim das Botas, tinha esse nome porque as solas das botas iam se gastando e ele não queria gastar dinheiro ia pregando um couro em cima do outro. No tempo das podas das árvores da City Lapa, os galhos eram transportados por carroções puxados a cavalos, e os garotos aproveitavam para chocarem (pedir carona).

Naquele tempo não havia banca de jornal no bairro, quando acontecia um roubo ou assassinato, o jornaleiro Giovanni vinha gritando pela rua o acontecido. Como o trágico assassinato da menina Wilma. Quando não tínhamos médicos, e alguém ficava doente tinha que ser chamado um médico da Lapa, como o Dr. Mario Rego Valença, Dr. Orwille, Dr. Vaz do Amaral, Dr. Efraim ou o Dr. Pomponet. O mesmo problema acontecia com os dentistas, pois quando a dor nos incomodava, tínhamos que ir até a Lapa.

Também não havia agência dos Correios, carteiros, nem agências Bancárias. Ponto de Táxi só na Lapa. Havia duas linhas de Ônibus, uma ligava Vila Leopoldina a Lapa, e a outra ligava a Vila Hamburguesa a Lapa, com a construção da ponte dos Remédios foi inaugurada a linha Vila Remédios a Lapa, pois antes só era possível atravessar o rio Tietê de balsa ou bote. Outro meio de Transporte da época era o bonde, que ligava a Vila Anastácio à Lapa, tendo como ponto final na Rua João Tibiriçá, onde era o restaurante Recanto Anhanguera.

Quando começou o calçamento da Rua do Corredor com paralelepípedos (Macacos), os ônibus começaram a circular pela Rua Aliança Liberal, que era de terra. Quando chovia, os ônibus encalhavam, onde é hoje o Supermercado Mambo. Na Rua Carneiro da Silva, esquina com a Rua Carlos Weber, onde era a Fábrica de Violões Gianinni, tinha uma grande cocheira de vacas. Ali era tirado leite, que era vendido nas imediações. Uma das famílias que comercializava esse leite, era a do João Bom e sua esposa Dna. Mafalda.

A Vila Leopoldina era chamada de Barro Preto, pois quando chovia era impossível atravessar de carro ou a pé. Na Rua Passo da Pátria perto da torre da Ligth tinha um túnel, e quando chovia as águas pluviais se acumulavam e se transformava em um tanque, a garotada tirava a roupa e pulava na água. Lugar de triste recordação, pois me lembro do acidente com o garoto Basílio, da Família Cardoso, que em 1944 aos 12 anos, morreu eletrocutado na Torre de alta-tensão da Light.

Tinha também onde hoje é o posto Médico, um tanque cheio de água que chamavam de banheira das vacas. Onde hoje é o Clube Pelé, havia vários campos de futebol e em volta tinha uma pista de ciclismo, que era usada também para corrida de motocicletas. As motocicletas mais conhecidas eram da marca Norton, Jawa, BMW, Panther, Triunf, etc. Em 1955 começaram a ser importadas as primeiras Motos Lambretas. Na Vila Anastácio foi aberta uma fábrica com o nome de Lambreta do Brasil.

Depois vieram as Motos Vespas da Piaggio Italiana, que todos os garotos queriam possuir para fazer charme para as meninas. Nesse mesmo período começaram a chegar os primeiros rádios portáteis movidos à pilha. Quando tinha algum aniversário ou casamento, toda vizinhança era convidada. Não podia faltar o sanfoneiro, esse era o tal. A sanfona tinha vários nomes, como Harmônica ou Acordeon.

Em frente à Igreja entre as Ruas Marquês de Paraná e Barão da Passagem havia a Rádio Piratininga, que tomava todo quarteirão e era bem arborizada. O administrador da rádio era o Sr. Oscar. O Sr. Aldemiro Tondin, meu pai, também chamado de Valdemar Encanador pelos seus clientes e “vô Miro” pelos seus netos, saia de bicicleta da Rua Aliança Liberal, onde morava, até a Rua Albion, na Lapa para trabalhar na fábrica de Calhas do Sr. João Finoti.

Ele trabalhou nesta fábrica por quase trinta anos. Quando a empresa fechou começou a trabalhar por conta própria até se aposentar, sua esposa minha mãe, chamava-se Conceição Sevilha Tondin, chamada de Dna. Concha pelos amigos, e de “vó Mira”, pelos netos. Era uma mulher decidida. Meu pai nunca precisou faltar ao trabalho, pois ela resolvia quase tudo sozinha, levava os filhos na escola, no posto médico, ia pagar a conta de Luz, fazia a lista das compras do Armazém. Quando as crianças tinham uma dor de barriga, já vinha ela com o chá de bico (Clister) para a lavagem intestinal.

Em Outubro de 1954 com 15 anos, entrei no meu primeiro emprego com registro na carteira. Fui trabalhar como arquivista na empresa Sofunge, localizada na Vila Anastásio, trabalhando nesta por quase 10 anos. Em Janeiro de 1958 estava na hora de servir a Pátria, fui convocado para servir no Exército no 4o R. I. (Regimento de Infantaria) na C.C.S.v. (Cia. Comando de Serviços) em Quitaúna.

Eram cinco horas da manhã, e vários recrutas já estavam na estação de trem Domingos de Morais, nas imediações da Vila Anastácio para pegar o Trem Militar que demorava uns quarenta minutos para chegar em Quitaúna. Eu tive muita sorte, e fui trabalhar na SecMob(Serviço de Mobilização). No Serviço de Identificação dos Recrutas, trabalhávamos em quatro soldados. Fazíamos o preenchimento das Carteiras de Identidade, correspondência militar, ofícios reservados e etc., tudo em máquinas de escrever. Tínhamos cursos de topográfia, estatísticas e armamentos.

No Regimento, havia dez companhias, e cada soldado era encaminhado para o pelotão de acordo com sua profissão. Ex. Motorista para o pelotão Transportes, pedreiro para o pelotão de Obras. Quem não tinha profissão, geralmente ia para o pelotão de Fuzileiros. O expediente encerrava as 16h00. Quem não estava de plantão estava dispensado. Nas quartas-feiras, o expediente era até o meio-dia. Só ficava no Quartel quem estava de Serviço. Agosto de 1958 foi o juramento a Bandeira. O campo estava cheio de recrutas, nas arquibancadas os parentes.Minha Mãe Conceição e meu irmão Walter, assistiam as solenidades.

O comandante do 4o R.I., Cel. Euryale de Jesus Zerbine, irmão do Dr. Euriclides de Jesus Zerbine cardiologista pioneiro dos transplantes de Coração do INCOR, começa a discursar sobre a importância do juramento a Bandeira. Terminada a solenidade o recruta passa a ser Soldado. Em Dezembro de 1958 dei baixa e recebi o certificado militar de 1ª. Categoria.

As famílias mais antigas do Bairro era a Pieri, Oliveira, Cardoso, Sevilha, Pacini, Tondin, Braghini, Cabrera, Falova, Merlugo e Giaquinto.

Foi contada aqui neste pequeno resumo, à história das duas melhores décadas de quem viveu em São Paulo neste período. Naquela época havia muito respeito entre as pessoas". (Antonio Tondin no site São Paulo Minha Cidade da SPTuris)

domingo, 13 de março de 2011

Memória - A imigração japonesa e as artes marciais

"Com certeza a grande preocupação dos imigrantes japoneses era a educação dos seus filhos na nova pátria. Além da enorme dificuldade de comunicação, em virtude do idioma e da diferença da escrita, havia um grande distanciamento entre brasileiros e japoneses no que tange à própria concepção de mundo. Os japoneses olhavam o seu mundo através de filosofias como o xintoísmo, o taoísmo, o budismo e o confucionismo, doutrinas que pregavam virtudes como honestidade, humildade, honra, respeito aos antepassados, aos mais velhos e aos pais. Demonstravam um forte apreço ao conceito de hierarquia, davam importância à disciplina na vida diária , assim como à etiqueta em sociedade. Admiravam a coragem, assim como a retidão de caráter de uma pessoa.

E assim, pretendiam passar toda essas virtudes aos seus filhos. Claro está que tudo isso era passado por gerações com ensinamentos de pai para filho e de mestre para os seus discípulos. Eles praticavam artes variadas e entre elas as artes marciais, ensinamentos herdados dos antigos samurais. Algumas dessas artes marciais se tornaram muito populares como o judô, o karatê-dô, o aikidô, o kendô. Algumas derivam do jujitsu, que era a arte guerreira dos samurais ou da arte da espada. A palavra “do” (caminho) no final de cada uma significa, além de uma modalidade esportiva, um caminho de autoconhecimento, de aperfeiçoamento humano e de formação exemplar do caráter. No início os praticantes eram descendentes de japoneses e membros da colônia, mas atualmente o número de pessoas de outras origens é significativamente maior. O judô, por exemplo, auxilia os pais na tarefa difícil de educar. Ele foi criado para ser uma atividade educativa para as crianças, jovens e adultos.

Eles ficarão fortes e evitarão problemas obesidades. Na nossa região tivemos grandes academias com mestres como o sensei Chiaki Ishii, medalha de bronze nas olimpíadas de 1972. Havia o Lapa JudoClube, do sensei Fuyo Oide, de onde saíram grandes atletas, como Sumio Tsujimoto, lapeano de nascença, com vários títulos nacionais e internacionais e que transmite seus conhecimentos à comunidade da Lapa há 30 anos na academia Kito (Rua Cerro Corá, 2.187 - Alto da Lapa). Além de tudo, uma arte marcial é um caminho por onde fazemos amigos. Podemos ir a qualquer lugar do mundo com o nosso quimono e faremos novos amigos. Verdadeiramente creio que esse é um dos belos presentes ofertados pelos nossos imigrantes japoneses. E mais uma vez, arigatô!" (Depoimento de Celina Yano - Fonte DaquiLapa)

sábado, 12 de março de 2011

Comunidade: Lapa e imigração húngara

"Os imigrantes húngaros foram sempre acolhidos de forma muito amistosa
pelo povo brasileiro. Esta seja talvez a causa principal de que em todas as
levas de imigração, houvesse tantos húngaros chegando ao Brasil ao longo
do Séc. XX.

Já em 1933, de acordo com uma nota publicada no Délamerikai Magyar
Hírlap (Periódico Húngaro da América do Sul) edição do dia 15 de junho,
estimava-se que o número de imigrantes húngaros no Brasil era de
150.000, sendo 30.000 radicados em São Paulo.



Os descendentes desses húngaros que têm consciência de sua origem
somam hoje em torno de 5.000 -10.000 pessoas.
Muitos dos húngaros imigrantes possuíam na Hungria pequenas
propriedades, estando ligados ao que hoje se chamaria o “agrobusiness”.
Estabeleceram-se no interior do Estado de São Paulo e com seus
conhecimentos e espírito empreendedor, depois de algumas dificuldades,
conseguiram prosperar.

Durante muitos anos, estes imigrantes húngaros
viveram com a esperança de um dia voltar para suas terras se estas viessem
a pertencer novamente à Hungria. Ensinavam a língua húngara aos seus
filhos e netos e guardavam as tradições húngaras em seus lares. Porém,
vários fixaram-se na cidade de São Paulo, que naquele momento passava por
um desenvolvimento econômico sem precedentes. Foram esses que
fundaram em 1926 a Associação Húngara Auxiliadora do Brasil. Ergueram em
1934 a Igreja Católica Apostólica Romana "Santo Estevão" (Vila Anastácio) e
a Igreja Calvinista (Lapa) em 1936". (fonte: A hungara.)

sexta-feira, 11 de março de 2011

Memórias - Vila Leopoldina de outrora
no relato de Boneli (3)

Num bairro tipicamente interiorano, a Vila  Leopoldina dos anos 50, o que fazia a garotada e os jovens  para se divertir? Quem relembra essa época é José Benedito Boneli Morelli, presidente do Conselho das Associações Amigos de Bairro da Região da Lapa.



 








quinta-feira, 10 de março de 2011

Desenvolvimento – As duas Estações Lapa



Em fevereiro de 2011, o deputado federal Carlos Zarattini, atendendo a demandas comunitárias, voltou a abrir diálogo com a direção da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), controlada pelo governo do Estado de São Paulo. O motivo da ação política de Zarattini é a unificação das plataformas de embarque das duas linhas da CPTM que cruzam a Lapa.

Vale aqui relembrar as origens das duas linhas:
Estação da SPR em 1899 - fonte /www.estacoesferroviarias.com.br


A chamada Linha 7 foi inaugurada pela São Paulo Railway em 20.de fevereiro de 1899.  “Embora o bairro da Lapa já existisse em forma incipiente na época da abertura da linha, a estação da Lapa foi a última das estações a ser aberta dentro de São Paulo ainda pela SPR. As alternativas eram a utilização da estação de Água Branca, dois quilômetros a leste, ou da Parada Anastácio, onde o trem parava logo após cruzar a ponte do Tietê, vindo de Jundiaí. Com a transferência das oficinas da SPR, vindas da Luz, para junto do rio, em 1898, devido à necessidade de água para as caldeiras, a estação foi finalmente construída no bairro. Hoje a estação, com um prédio mais recente e infelizmente não muito bem cuidado, atende aos trens da CPTM, com enorme movimento. Saindo da estação, existem os desvios que seguem para as oficinas da antiga SPR, depois E. F. Santos-Jundiaí e hoje usados pela CPTM e pela MRS. Existe, a cerca de 500 metros dela, a estação da Lapa da antiga Sorocabana, hoje também pertencente à CPTM, mas que atende os trens que vão para Itapevi. (fonte: //www.estacoesferroviarias.com.br)

Em 1958, a Lapa ganha uma outra estação, A estação Lapa da Estrada de Ferro Sorocabana fica próxima à estação Lapa da São Paulo Railway (atual linha 7 da CPTM). No entanto, as obras de construção só foram concluídas em 1961. “Inaugurada como km 7 em 1958 para atender a região do bairro da Lapa, a estação manteve esse nome por muitos anos. Pelos mapas anteriores a 1958, sabe-se que já existia uma parada simples no local - possivelmente uma parada de serviço. "Havia uma parada na Lapa, mas não era onde é a estação hoje. Era bem na curva, ao lado da estação da SJ e era de madeira" (Coaraci Camargo, 01/2009). Provavelmente, se sua posição estiver correta no mapa acima, atenderia aos armazéns na atual "Estação Ciência" existente no local, com entrada pela rua Guaicurus. "A parada do km 7, Lapa, era para passageiros, sim, e relativamente longe do centro da Lapa, pois a entrada era pela rua do Cortume. Havia também na Lapa o Difa, ou Intercâmbio ou outros nomes que teve, este sim, para ligação operacional com a EFSJ, uma vez que havia também o armazém de transbordo na Barra Funda" (Coaraci Camargo, 08/2007). A plataforma de embarque e desembarque da estação foi terminada apenas em 1961. Hoje um prédio moderno, aberto em 25/01/1979, atende aos trens da CPTM. Existe uma outra estação da Lapa, que atende também à CPTM, mas na linha da antiga Santos-Jundiaí. Essa estação fica a uns 500 metros da estação da Lapa da antiga Sorocabana, e é de origem muito mais antiga, remontando ao final do século passado”. (fonte: //www.estacoesferroviarias.com.br)


quarta-feira, 9 de março de 2011

Memórias - Vila Leopoldina de outrora
no relato de Boneli (2)

Histórias da Lapa volta a abrir espaço para  o relato de José Benedito Bonelli, presidente do Conselho das Associações Amigos de Bairro da Região da Lapa (Consabs), sobre a Leopoldina de outrora. Boneli fala das brincadeiras da garotada no bairro nos anos 50.





segunda-feira, 7 de março de 2011

Comunidade: Lapa e poesia

 

É tempo de Carnaval, neste ano de 2011. Carnaval que chegou só em março. Tempo de Carnaval é tempo de folia, mas para quem quer ficar longe da batucada vai aqui um momento de pura poesia reflexiva. No site São Paulo, Minha Cidade, da SPTuris (empresa da Prefeitura reponsável pelos eventos na cidade) encontramos o seguinte texto de J.Grassi, datado de 2010.

"A primeira friagem deste outono desceu sonora com sono, das torres de tijolos vermelhos espetadas num céu cor de vidro na igreja de Nossa Senhora da Lapa. E os sinos ondularam nas notas monótonas, soaram lentos e tontos, ficou no ar um instante rondando, sobre os telhados pretos, antigos, da Rua Doze de Outubro no bairro operário da Lapa.

Que estranho! Agora, parece que aquelas mesmas notas lânguidas, que ali tinham descido, começaram a subir. Desdobradas, desfolhadas, esfareladas sobre as travessas das ruas do bairro. É uma ressonância magnética, misteriosa, envolvente, cativante, embaladora sempre em ascensão.

Os sinos das torres da igreja matriz anunciaram: Seis horas da tarde. É a hora da Ave Maria. E aquelas mesmas notas sonoras, lânguidas, desfolhadas, esfareladas, descendo lentamente, ondularam, miaram, ronronaram como gatos, sobre os telhados rasteiros da Rua Nossa Senhora da Lapa e se aglomeram como um canto de onda no côncavo acústico de uma concha.

Lá no entorno das ruas tudo gira como se fosse um gramofone tocando uma sinfonia. Parece que todos os ruídos confusos da cidade se acumularam e convergiram ali, no entorno das ruas transversais no bairro comercial e dos bares baratos da Lapa. É o bairro dos operários.

Na comprida rua há uma chusma de barracas de lona dispostas no meio fio das calçadas todas repletas de gente, sobre o ruído fervilhante de uma ladainha de vozes misturadas, embaralhadas, confusas, entrecortadas, semelhantes a um longo suspiro de uma interjeição de alegria. Como se fosse uma opereta, misturada ao som do pesado e intenso tráfego dos ônibus, automóveis e caminhões pelas ruas. Babel!

Ali perto, existe um bar. Entra um homem com um pastor alemão grande, digno do porte, de pêlo curto e escuro, que passeia entre as mesas e fica no melhor lugar, em posição sentada, com seus olhos escuros vigiando. Tudo inútil. Dentro do bar um bom bêbado gordo com o seu bom chope, também gordo.

O proprietário deste bar costumava fechá-lo de vez em quando, para pregar uma boa peça de gozação aos fregueses. Coloca uma placa retangular pintada de azul dependurada na porta de aço com os dizeres: hoje está fechado para o almoço. Sigo descendo a Rua Nossa Senhora da Lapa, à esquerda, até a Rua Clemente Álvares, junto ao fórum regional da Lapa.

Mais abaixo, próximo ao Quartel do Corpo de Bombeiros na próxima travessa, há uma esquina entre a fachada do prédio de um banco, e algumas lojas comerciais, onde estão montadas as primeiras de muitas outras barracas de lona junto ao meio fio da calçada, na ponta do passeio de pedestres, o camelódromo. Ali, ele desponta com gente em pencas em torno de uma sinfonia de vozes, apregoando as mercadorias contrabandeadas.

Lá é o reino da bugiganga, das cangas, miçangas, das quinquilharias boas e baratas, dos relógios falsificados, imitação grosseira, porém, quase perfeita, de modelos mundialmente conhecidos: Rolex, Ômega, Tissot, e tantas outras marcas Made in China. De dentro de uma barraca de lona, sai um homem grande, moreno, em mangas de camisa, colete desabotoado e um boné na cabeça com a estampa do Corinthians, desenhado no frontal. Ao lado dele, há um velho com um tabuleiro de balas, paçocas e amendoins jogados ao loto.

Duas mulheres de cócoras vendem no meio fio da calçada, pêras verdes e tremoços. Saio dali, e vou caminhando pela Rua Cincinato Pomponet até uma praça onde antigamente existia uma loja de referência e variedades, “Ao Barulho da Lapa”. Mais a frente, num largo arejado, todo cinzento, de calçamento novo, próximo ao Mercado Municipal, em frente aos portões do terminal de ônibus da Lapa, há gente que passa ou pára curioso.

Um homem com uma pianola eletrônica, outro com uma zabumba e outro mais com um triângulo de ferro, usando um gramofone áspero, rouco, rasgado, sempre rangendo, riscando o ar ralo e poluído ao som de uma música cadenciada. Há ali também, uma mulher baixa, saia rodada, um bornal ladeado na cintura fina, lenço no pescoço com adereços de cangaceiro, imita quase que perfeita a mulher rendeira da Maria Bonita de Lampião.

Ela traz no ombro uma cópia quase perfeita de um fuzil como antigamente eram usados nas caatingas no interior de Pernambuco e do Ceará. É apenas uma boa gente que vem ali, para divertir o povo e divulgar o lançamento de seu CD. Ela acompanha o ritmo cadenciado da música hipnótica, batendo o pé firme no chão, dançando no compasso do xaxado de espaço a espaço o Forró e Baião.

À direita, uma travessa. Rua Catão, na esquina dobrada há um Shopping Center. No topo do prédio há um círculo ovóide sobreposto a outro menor, nas cores laranja e branco, sob o marca passo do relógio que espia do alto da torre o burgo de casinhas espremidas, miúdas, todas iguais no entorno do Shopping Center da Lapa. Olhei um pouco para as torres agora distantes da Igreja de Nossa Senhora da Lapa, pensei nas ermidas brancas pelas noites de invernada quando as almas rondam em procissão pelos telhados velhos, pretos e tristíssimos daquelas ruas antigas do bairro da Lapa.

É aqui bem próximo, num terreno de estacionamento, que começa o quadrilátero do quarteirão do Shopping Center e logo ali, mais adiante, na Rua Guaicurus ele termina. Entro pela porta lateral e me misturo com a multidão de homens e mulheres que deslizam pelas calçadas. Na porta das lojas comerciais há moças ansiosas, esperançosas, enroscadas, enoveladas em pensamentos esperando pacientemente, algum freguês para vender algum objeto, alguma roupa de esporte ou suporte, ou alguma bugiganga qualquer.

Enrosco-me, enovelo-me, nesses corredores pardos e vou seguindo a turba. Vou neles, vou com eles, sobre a claridade suave do neon até a porta de uma loteria. Jogo farto, apostas em alta, o prêmio da Mega Sena está mais uma vez acumulado, diz a placa do Baners disposto na porta de entrada da casa lotérica. Quem sabe a sorte não está lá? Vou seguindo pela praça de piso novo marrom esmaltado, reluzente ao reflexo da luz derramada do alto do teto.

No ar rarefeito, sinto o perfume que exala da loja dos aromas, logo ali, mais adiante. Olho curioso à porta de entrada principal onde há uma moderna casa de lanches, servindo sanduíche recheado de carne, alface, cebola e gergelim, quase sempre regado a Coca Cola. É a presença dos Yankee ali. E bandos de jovens e crianças que vem de todos os lados, e ficam no meio da loja, em algazarra, sorvendo o sorvete derretido nas casquinhas em forma de cone. Vou agora caminhando sob as placas de publicidade das lojas até o fim do corredor. Volto.

Ando tudo de novo. No meio da praça está um pequeno quiosque de informações. Vejo-te. É bela recepcionista, sorriso delicado nos lábios, olhar discreto e atencioso está atento à telinha do computador. Dou-lhe algumas balas, mando-lhe um beijo e me despeço. Teu nome? Não sei! Mariana, Marina, Cláudia, Juliana ou Danielle?

Quem sabe! Agora é hora de voltar. Saio novamente pela lateral do Shopping. Olho para o céu e vejo sob rolos de algodão uma lua quebrada, entre grossas nuvens de alegorias, suspensas e arqueadas sobre o bairro nostálgico e poético da Lapa". (http://www.saopaulominhacidade.com.br/list.asp?ID=3885)


domingo, 6 de março de 2011

Comunidade: Lapa e o Carnaval de rua

Quem nunca teve a oportunidade de curtir o Carnaval de rua ou aqueles que sonham em reviver um passado lapeano precisam conhecer a turma do do bloco “A Lapa Somos Nóis”
 Desde sua fundação em 2001, o “A Lapa Somos Nóis” desfila nas ruas do bairro, no período pré-carnavalesco, cantando sambas-enredo que fizeram sucesso no Carnaval paulistano. A primeira folia foi ao som de “Nóis Falando da Lapa”, (Império Lapeano). Na seqüência vieram “Água Cristalina” (Unidos do Peruche); “Vissundo. Contos de Riqueza” (Mocidade Alegre); “São Paulo. Seu Povo.
Sua Gente” (Rosas de Ouro); “Na Arca de Noel Rosa” (Vai-Vai) e “Narciso Negro” (Nenê de Vila Matilde) 
"Sempre convidamos as famílias e escolas da Lapa e região a brincarem conosco”, afirma um dos fundadores do bloco, José Benedito Morelli Boneli. O outro lapeano funddaor do A Lapa Somos Nóis foi o falecido Décio Ferreira. “ A criação do bloco foi uma iniciativa para  relembrar o tempo de nossos pais e avós”, explica um Décio Ferreira, um dos fundadores do bloco. “Nas primeiras décadas do século passado, o bairro da Lapa tinha um alegre Carnaval de rua, em áreas como o Largo da Lapa e a rua Doze de Outubro.